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domingo, 29 de outubro de 2023

DE MÃOS DADAS

 De mãos dadas… - Poema de Tarso Correa 


Meu filho, hoje é meu pai,

As minhas ideias se misturam,

Esqueço muitas coisas,

Sofro o passado como se fosse presente.

O tempo é lento, carente

O futuro de braços dados com o passado é o hoje, tudo se abstrai.

Ontem fui rompante hoje uma mente frágil e

 corpo miudo, 

Minha mente uma caixa de lembranças misturadas, desconexas,

 E outras simplesmente se esvaíram, apagaram, deixando espaço vazio, como meu olhar para o nada.

Lembranças nubladas pela catarata do tempo.

Abstratas.

Fico a flutuar em um mundo volátil, desnudo.

A cada passar do calendário, 

Enrijeço, torno refratário , em um espaço vazio,

Oco, igual a mim, 

Uma caixa de retratos misturados, sem data,

Sem significados

Sem importância,

Pura impedância.

quinta-feira, 6 de outubro de 2022

SUBSTANCIAR

 SUBSTANCIAR -  poema de Tarso Correa


A vida é apego, aconchego

É apertar os nós, alguns desatar

Deixar partir e chegar;

Alguns chegam nos envolvendo

Como um trançar de braços

Outros se vão em passos lentos 

Que a gente nem percebe o seu distanciar.

A vida é um enlaçar de almas

Nesta dança frenética

De chegadas e partidas, de idas

 e vindas

A vida é atrito neste baile de uma música só.

É o vagar as vezes sem ninguém ao teu lado, outras embaralhados, condensados num compasso de grande laço.

E neste ritmo de apertar e soltar

De substanciar e evaporar

O tempo passa e repassa

Na única certeza de amar e deixar se amar .

terça-feira, 23 de agosto de 2022

LAPSO

 LAPSO - poema de Tarso Correa 


Quando fiquei velho,

Não foram os cabelos brancos, os anos vividos;

Nem o passar dos tempos puídos.

Foi quando criei raíz 

Tudo que não fiz,

Foi o acomodar com o nada

Com a vida atabalhoada,

Sem tempo para o vagar em mim

Neste momento carmim.

Quando fiquei velho

De olhar vago sem reflexo

Me vi velho com a vida enrugada,

Amassada no atropelo de tudo;

E mudo acomodei neste complexo do nada

Que afaga, apaga os meus sonhos

De voar, ar afagar;

Quando fiquei velho

Empedrado, amortalhado

Sem ver, sentir, flutuar,

Sem tempo para me amar,

Fiquei velho .

quarta-feira, 13 de julho de 2022

AQUARELANDO

 AQUARELANDO - poema de Tarso Correa


Livre do claustro dos tablados

E dos limites das coxias

Solta como um passarinho fora do ninho

A bailarina do asfalto, iluminada por purpurinas

Sobre um tapete de listas brancas

Embaixo do holofote vermelho do semáforo

Riscava o ar com suas clavas coloridas

Traçando arco íris fugazes

Um show de segundos por alguns trocados

Trocados por um sorriso

Banhado em uma centelha de esperança;

E neste caos, fumaça e correria

O tempo para num flash de luz vermelha;

A rotina com seu hálito quente se faz presente

Quebrando o encanto

Tirando o manto da fantasia.

domingo, 6 de dezembro de 2020

ENCADERNANDO O TEMPO

ENCADERNANDO O TEMPO - poema de Tarso Correa

 O meu futuro abraça o passado, 
Enlaçado nesta distopia, 
Embaçado pela miopia, 
Do cronológico segmentado. 
O tempo corre paralelo, embaralhado, Trazendo o presente rasgado. 
Sou um reflexo atemporal, 
Dividido em múltiplas partes, 
Atados em um nó visceral, 
Encadernado em encartes avulsos. 
O meu presente pulsa, enamorado com o passado, 
Esquecendo o futuro, 
Que vem prematuro, torto, inseguro. 
O meu passado desleixado, 
Não lembra do futuro, 
Abandonando o presente, 
Que condescendente se cala; 
E neste mundo paralelo, 
Suturo todas as partes, 
Com a força de um Parabelo; 
Moldando, limpando, desfazendo, Reconstruindo, fluindo.

domingo, 26 de abril de 2020

REALIDADE NUA

Realidade nua - poema de Tarso Correa

A bala perdida,
Com endereço certo,
No peito do favelado;
Perdida são as oportunidades,
A falta do estado,
Oportunidade única, o caminho incerto,
Da corrente de ouro no pescoço,
Na cintura arma de calibre grosso;
Encontro entre duas certezas, caixão ou prisão.
É a falta do básico, saúde, educação e muito mais;
É o esgoto a levar a esperança morro abaixo,
Nesta sociedade que não me encaixo.
Sou preto forro,
Com correntes nos punhos.
É porrete no lombo,
Para cada sonho sonhado, neste grande quilombo.
É bala perdida,
Com endereço certo,
Dos falsos testemunhos;
Aqui tem trabalhador, estudante e sonhador,
Tem samba, funk e som de toda cor,
Resistência nos guetos;
Nas tranças, trançamos correntes,
Crentes num mundo igual,
Resistentes, amarramos nossa dor,
Neste estelionato social.
Somos mulatos, brancos e pretos,
Carregando nos abraços as engrenagens da cidade;
Sou preto forro com correntes nos pés;
Sou do morro, das vilas e favelas, aglomerados e muito mais.
São retratos das diferenças sociais,
Somos mananciais, máquinas e chão de fábrica,
Que expele a força de tantos Brasis;
Somos todos pretos cafuzos;
Reclusos no preconceito social;
Somos Prado Lopes, Paraisópolis, Aglomerado da Serra,
Morro do Papagaio,
Somos Casa Amarela, Ceilândia, Cidade de Deus,
Nova Jurunas e tantos mais.
Somos muitos e esquecidos, largados e poucas vezes lembrados,
Nas manchetes dos jornais;
Somente pela violência, pela dor;
Apaga se tudo , com filho enterrado, lamentado.
Resta somente a resistência, resiliência,
Destes pretos forros com as correntes dos seus ancestrais.

terça-feira, 7 de abril de 2020

TALHANDO VERDADES

Talhando verdades - Tarso Correa

Meu quintal é o mundo,
Mas colocaram muros;
A minha terra deixou de ser maternal,
E imperou a razão.
Fomos rotulados, etiquetados,
Colocados em prateleiras,
Empurrados para a soleira das portas da sociedade,
Neste mundo de improbridade
Tudo tornou se comum.
Então, a terra parou;
E neste momento profundo,
Misturo me nesta solidão,
No sal da vida.
No pensamento de todos.
Reconfiguro me nas nossas fé;
Somos Cristo, Brahma, Alá, somos tantos outros,
Somos vários;
Somos dispersos,
Somos controversos, uma apóstrofe;
Dignitarios a sair do lodo,
A buscar um caminho nas várias verdades,
Banhando na diversidade.

DE MÃOS DADAS

 De mãos dadas… - Poema de Tarso Correa  Meu filho, hoje é meu pai, As minhas ideias se misturam, Esqueço muitas coisas, Sofro o passado com...