LADAINHA DO SERTÃO - poema de Tarso Correa
A terra rachada,
Como a sola dos meus pés,
A alma magoada, amarrada,
Engaiolada igual passarinho;
Ninho de aguapés;
A boca seca,
Vazia sem som,
Como o rio morto que não corre mais,
Terra de sal,
Pasto de cupinzal;
No horizonte as cores amareladas,
Como o fogo na terra,
A dor de uma guerra, luta sem fim,
Carcaças embalsamadas, perdidas no solo,
Na cabeça os sonhos desfeitos;
Magoa que não passa e pereça;
Fonte sem água,
Crianças sem colo,
Assustadas de olhos esbugalhados e barrigas inchadas,
Arrastadas por suas mães, mulheres prenhas do sertão;
Os calos das minhas mãos,
Batem no cabo da enxada o cascalho,
Cavando nãos;
Em ritmos do suor molhando o chão;
Um vazio arranhado, desta terra abandonada;
Que ressequida choras suas lágrimas secas;
Destes corpos sofridos,
Que lutam os sonhos perdidos;
Na lamúria dos pés arrastados,
Das caminhadas pelo chão de terra batida,
Levando a lata na cabeça,
A água barrenta,
O pagamento pela resistência,
Sofre o povo,
Sofre o bicho
Bicho morre,
O povo resiste.
Blog sobre poesias. Poesias que gritam as mazelas humanas e seus encantos; suas perdas e microcefalias sociais, em que somos atores das nossas frustrações, buscando a receita da felicidade.
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terça-feira, 3 de outubro de 2017
quinta-feira, 21 de setembro de 2017
COTIDIANO ARRASTADO
COTIDIANO ARRASTADO - poema de Tarso Correa
No cristalino dos meus olhos,
O reflexo do concreto se condensa;
No compasso do relógio,
Vejo pessoas atabalhoadas,
Em um mundo que passa em flashes multicores,
Misturas de neons, sons e energias agrilhoadas;
Passa o dia vem a noite,
De seres buscando a compensação, o alcalino;
Consciências em litígios,
Entre o sinônimo e o antônimo,
Buscando algo que lhes compensem;
As suas dores, momentos cinzas sem cores,
Vidas opacas que se misturam, embrulham;
Neste caldo chamado sociedade;
Entre lágrimas e sorrisos num mundo pela metade,
Buscando renovar o tempo, na esperança de um novo dia;
Mas tudo reinicia, no mesmo compasso,
Arrastado pelo cotidiano, levado pelo medo do desconhecido,
No mesmo ritmo desta massa disforme,
Na letargia de quem dorme,
Em um lapso temporal perdido,
No mesmo passo, raso,
Lasso.
domingo, 14 de maio de 2017
Verdades Puídas
Verdades Puídas - poema de Tarso Correa
A verdade é um pouco das mentiras que nos contam!
Várias incorporei por comodidade,
Outras por ignorância,
Algumas por interesse;
Hoje minha vida é um rosário de contas de meias verdades,
Histórias atadas por fios, que se confrontam e amedrontam;
Ambiguidades sopradas por lábios que sibilam,
Conveniências envoltas em névoas de sedução,
Embalsamadas em papéis de seda da falsa afeição;
A verdade mesclada à mentira,
Atada em ácidas tiras,
Apaga-se das memórias,
Enclausuradas em divisórias,
Do claustro do tempo,
Que tudo apaga, afaga,
Lacrando com a lápide do esquecimento.
A verdade é um pouco das mentiras que nos contam!
Várias incorporei por comodidade,
Outras por ignorância,
Algumas por interesse;
Hoje minha vida é um rosário de contas de meias verdades,
Histórias atadas por fios, que se confrontam e amedrontam;
Ambiguidades sopradas por lábios que sibilam,
Conveniências envoltas em névoas de sedução,
Embalsamadas em papéis de seda da falsa afeição;
A verdade mesclada à mentira,
Atada em ácidas tiras,
Apaga-se das memórias,
Enclausuradas em divisórias,
Do claustro do tempo,
Que tudo apaga, afaga,
Lacrando com a lápide do esquecimento.
quinta-feira, 16 de março de 2017
Multidão Enclausurada
Multidão Enclausurada - Poema de Tarso Correa
Solidão é tudo!
Em um mundo de muitas mãos e poucos abraços;
Homens, cegos, surdos e mudos,
Definhando em seus espaços;
Somos muitos, e poucos,
Que loucos, nos encarceramos na prisão do medo,
Acorrentando neste exílio,
Sufocando em nosso degredo;
Perdidos nos nossos martírios,
De morrer sem viver,
De viver só para morrer.
Solidão é tudo!
Em um mundo de muitas mãos e poucos abraços;
Homens, cegos, surdos e mudos,
Definhando em seus espaços;
Somos muitos, e poucos,
Que loucos, nos encarceramos na prisão do medo,
Acorrentando neste exílio,
Sufocando em nosso degredo;
Perdidos nos nossos martírios,
De morrer sem viver,
De viver só para morrer.
quarta-feira, 11 de janeiro de 2017
MEIA LUZ
MEIA LUZ - POEMA DE TARSO CORREA
Marginal eu sou!
Do amor mais profano,
Da vida mundana,
Das madrugadas lavadas,
Pelo suor dos corpos;
Dos segredos guardados nos copos;
A meia luz nas esquinas,
Tremulando nas sombras submersas da neblina;
A pele, ossos e carne que ardem,
O estômago embrulhando,
Pelo amor correspondido,
Com prazo de validade;
Molhado pela aguardente;
Afagado pelo desejo do beijo,
Corrompido pela falsa castidade;
No calor ardente,
A desvair com o apagar da lua,
Deixando lençóis amassados,
Suados, carimbados pelas falsas verdades,
Das mentiras que se vestem,
Da névoa da catarata do fim da noite,
Que sugada pelo dia que rasga como açoite,
E despem da fantasia,
De mais um dia que se pronuncia,
Reinicia.
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