RELICÁRIO DE SAUDADES - POEMA DE Tarso Correa
No quarto vazio, encostado a um canto,
Um relicário de saudades de seis portas,
Pulsava lembranças e nublava meus olhos,
Descortinando o manto do passado;
Em cada objeto pinçava histórias,
Memórias vividas compartilhadas,
Um guarda roupa, cápsula do tempo;
Em cada porta aberta, aroma de coisa guardada,
Lençóis, cobertores, roupas embrulhadas,
Retratos, cartões, recordações materializadas;
E neste curto trajeto, percorri anos,
Sorri, chorei;
Em cada cantinho uma surpresa;
Navegando ao mesmo momento
Entre a alegria e tristeza;
A cada espaço esvaziado, uma porta fechada, uma despedida,
De uma vida que passou;
Deixando suas marcas e manias impressas;
Neste regresso, lavo meu coração no lamento,
Deitando o aperto do peito
No leito do amor deixado,
Abraçado pelo calor do afeto.
Blog sobre poesias. Poesias que gritam as mazelas humanas e seus encantos; suas perdas e microcefalias sociais, em que somos atores das nossas frustrações, buscando a receita da felicidade.
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terça-feira, 13 de novembro de 2018
sábado, 1 de setembro de 2018
REFLEXO ATEMPORAL
REFLEXO ATEMPORAL - poema de Tarso Corrêa
Sou invisível, algumas vezes;
Causo estranheza, repulsa; quase sempre,
Mas mesmo que me menosprezes;
À minha presença, teu corpo pulsa, lateja,
Em convulsões de náuseas,
Pois sou a tua parte mais carente;
A que rasteja agarrada às rédeas da tua fragilidade,
A qual escondes, mas que perto de mim, és latente,
Que queima tua face, tua alma, teu ego ardente.
Não tenho privilégios e nem preferências,
Minha companheira são minhas carências e meus sortilégios,
Sou do mundo, das ruas;
Que desvelam nuas, nossos segredos mais profundos;
Meu teto são as estrelas, as núvens;
Minha cama um papelão, um chão,
Que me absorvem, envolvem na neblina do álcool,
De um sono profundo e puro de um querubim.
A casa que moro é sem teto, a comida que como, é sobra tua;
As roupas que uso, são descartes teu;
Mas meus sonhos são meus!
Este corpo fétido, roto, machucado, esfolado,
É o que sobrou de um longo passado meu.
Sou invisível, algumas vezes;
Causo estranheza, repulsa; quase sempre,
Mas mesmo que me menosprezes;
À minha presença, teu corpo pulsa, lateja,
Em convulsões de náuseas,
Pois sou a tua parte mais carente;
A que rasteja agarrada às rédeas da tua fragilidade,
A qual escondes, mas que perto de mim, és latente,
Que queima tua face, tua alma, teu ego ardente.
Não tenho privilégios e nem preferências,
Minha companheira são minhas carências e meus sortilégios,
Sou do mundo, das ruas;
Que desvelam nuas, nossos segredos mais profundos;
Meu teto são as estrelas, as núvens;
Minha cama um papelão, um chão,
Que me absorvem, envolvem na neblina do álcool,
De um sono profundo e puro de um querubim.
A casa que moro é sem teto, a comida que como, é sobra tua;
As roupas que uso, são descartes teu;
Mas meus sonhos são meus!
Este corpo fétido, roto, machucado, esfolado,
É o que sobrou de um longo passado meu.
sábado, 16 de junho de 2018
A MORTE DO POETA
A MORTE DO POETA - poema de Tarso Correa
A morte para o poeta não é física,
E sim de sentimentos;
Que se apresenta tísica,
Esquelética e ressequida,
Nublando a dor não sentida,
O amor não correspondido;
É viver e não ver,
A cor e seus matizes,
O cinza, suas sombras e cicatrizes;
É não abraçar, não viver e morrer,
É simplesmente se perpetuar em um só momento.
A morte para o poeta não é física,
E sim de sentimentos;
Que se apresenta tísica,
Esquelética e ressequida,
Nublando a dor não sentida,
O amor não correspondido;
É viver e não ver,
A cor e seus matizes,
O cinza, suas sombras e cicatrizes;
É não abraçar, não viver e morrer,
É simplesmente se perpetuar em um só momento.
terça-feira, 1 de maio de 2018
PÍLULAS DE LIBERDADE
PÍLULAS DE LIBERDADE - poema de Tarso Correa
Cartelas de comprimidos jogados ao chão,
De vários gostos e cores que provocam letargia e ilusão;
Deitado na cama, em minha solidão,
Num sonho longo, mirando o teto com minhas pupilas dilatadas,
Vejo o filme desconexo da minha vida,
Que se esvai na baba gosmenta que sufoca a minha tristeza entalada;
Um fim, sim um fim;
A única saída encontrada,
Por não ter e ver sentido,
Em tanta dor, em um mundo sem cor
Sem solução, num mundo de desilusão;
Sim, um fim;
Pelo menos no final, coloro o adeus,
Em capsulas multicores,
Dando fim as minhas dores.
Cartelas de comprimidos jogados ao chão,
De vários gostos e cores que provocam letargia e ilusão;
Deitado na cama, em minha solidão,
Num sonho longo, mirando o teto com minhas pupilas dilatadas,
Vejo o filme desconexo da minha vida,
Que se esvai na baba gosmenta que sufoca a minha tristeza entalada;
Um fim, sim um fim;
A única saída encontrada,
Por não ter e ver sentido,
Em tanta dor, em um mundo sem cor
Sem solução, num mundo de desilusão;
Sim, um fim;
Pelo menos no final, coloro o adeus,
Em capsulas multicores,
Dando fim as minhas dores.
domingo, 4 de março de 2018
EROSÃO DA INFÂNCIA
EROSÃO DA INFÂNCIA - POEMA DE TARSO CORREA
Pulseirinha de miçanga,
Chinelo de dedo;
Em casa uma boneca estragada, jogada num canto,
Igual a vida desta criança,
Perdida entre a inocência e o medo;
Uma vida tragada pela falta de oportunidades,
Em um mundo indiferente e de maldades;
Da penúria do dia,
Para a penumbra da noite;
Batom nos lábios infantis,
Saboreada por olhos vis;
Enclausurada na estrada, esquina de um posto de gasolina;
Trancinha no cabelo,
Púbis sem pelo,
Transpirando cheiro barato de lanolina;
Por dez reais, não mais,
Para matar a fome,
Comprar o arroz com feijão,
Mais um dia, uma noite de incertezas, desilusão,
Na boleia de um caminhão,
Vendendo o corpo miúdo, ainda em formação;
Olhinhos assustados, com lágrimas que secam antes de cair,
Sugando sonhos não sonhados,
Lavados pelo gosto amargo do dinheiro,
Da pureza que esvai rasgada pela violência e a doença,
De uma vida diluída, da infância a sucumbir.
Pulseirinha de miçanga,
Chinelo de dedo;
Em casa uma boneca estragada, jogada num canto,
Igual a vida desta criança,
Perdida entre a inocência e o medo;
Uma vida tragada pela falta de oportunidades,
Em um mundo indiferente e de maldades;
Da penúria do dia,
Para a penumbra da noite;
Batom nos lábios infantis,
Saboreada por olhos vis;
Enclausurada na estrada, esquina de um posto de gasolina;
Trancinha no cabelo,
Púbis sem pelo,
Transpirando cheiro barato de lanolina;
Por dez reais, não mais,
Para matar a fome,
Comprar o arroz com feijão,
Mais um dia, uma noite de incertezas, desilusão,
Na boleia de um caminhão,
Vendendo o corpo miúdo, ainda em formação;
Olhinhos assustados, com lágrimas que secam antes de cair,
Sugando sonhos não sonhados,
Lavados pelo gosto amargo do dinheiro,
Da pureza que esvai rasgada pela violência e a doença,
De uma vida diluída, da infância a sucumbir.
sexta-feira, 5 de janeiro de 2018
EMBOCADURA SOCIAL
EMBOCADURA SOCIAL - POEMA DE TARSO CORREA
É pouco chão para muita bunda,
Muito alfabeto para poucas cabeças,
Muito cabresto para muitos eleitores,
Muitos controles para muitas letras mortas;
São formigas nas trilhas tortas,
Seguindo hipnotizadas pelos seus coletores,
Sonhando acordados sonhos que os favoreça,
Carregando nas costas corcundas,
O peso do flagelo da ignorância,
De um mundo sem oportunidades,
De uma vida mesquinha em desalinho,
Limitada, atolada;
Da infância à velhice mergulhada na passividade,
Em plena anulabilidade.
É pouco chão para muita bunda,
Muito alfabeto para poucas cabeças,
Muito cabresto para muitos eleitores,
Muitos controles para muitas letras mortas;
São formigas nas trilhas tortas,
Seguindo hipnotizadas pelos seus coletores,
Sonhando acordados sonhos que os favoreça,
Carregando nas costas corcundas,
O peso do flagelo da ignorância,
De um mundo sem oportunidades,
De uma vida mesquinha em desalinho,
Limitada, atolada;
Da infância à velhice mergulhada na passividade,
Em plena anulabilidade.
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